Cinemateca do MAM lança coletânea de documentários sobre grandes cineastas como Cacá Diegues, Luiz Carlos Barreto, Lúcia Murat, entre outros 


Linguagem do Cinema Série II - 15 de maio – 2ª feira


O lançamento da segunda série do projeto A Linguagem do Cinema, idealizado e dirigido pelo cineasta baiano Geraldo Sarno, acontece no dia 15 de maio, segunda-feira, às 19h, na Cinemateca do MAM. A sessão será seguida de um bate-papo com o realizador Erik Rocha e mediação de Hernani Heffner – professor de História do Cinema da PUC-Rio, pesquisador e conservador-chefe da Cinemateca do MAM.

A nova série é outra coletânea de dez títulos em que cada um investiga o processo criativo de  realizadores e técnicos durante 50 minutos. São eles Lúcia Murat, Cacá Diegues, Rosemberg Cariri, Edgard Navarro, Eryk Rocha, Ricardo Miranda, Walter Goulart, Cao Guimarães, Eduardo Nunes e Luiz Carlos Barreto.

Lançado originalmente no final dos anos 90, A Linguagem do Cinema série I –foi realizada em regime de co-produção com a Rio Filme, entre 1997 e 2001, veiculada pelo IRDEB e Canal Brasil e difundida em homevideo pelo CTAV. Era uma coletânea dedicada à apresentação e compreensão do modo de ser e estética do filme brasileiro. Composta por 10 títulos, apresentava a arte cinematográfica de 12 cineastas, entre os quais Júlio BressaneWalter SallesDaniella Thomas e Ruy Guerra.

Os programas são montados em formato de entrevista e o depoimento de cada artista é complementado com materiais de arquivo como trechos de seus filmes, publicações, escritos e fotografias. A ideia é mostrar um auto-retrato em que o próprio entrevistado tenha colaborado com a concepção do seu episódio, refletindo sobre o processo criativo pessoal e do cinema.

O projeto de Sarno documenta o pensamento dos cineastas brasileiros e contribui para a formação de um público interessado em aprender sobre a linguagem cinematográfica brasileira e sua diversidade de temas, estilos, técnicas e propostas. As séries, segundo o diretor, são voltadas tanto para o público em geral quanto para o público profissional, estudantes e professores universitários, sobretudo para os artistas com ambição criativa.

Cinemateca do MAM

Coordenação de lançamento: Hernani Heffner

A Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi fundada em 7 de julho de 1955. Ao longo de seis décadas de existência o setor estruturou-se em arquivo de filmes, centro de documentação e sala de exibição audiovisual dos diferentes suportes, formatos, bitolas e padrões que o cinema e as demais formas de imagens em movimento assumiram ao longo do tempo, cobrindo película, magnético e digital.

A história da Cinemateca compreende um vasto número de iniciativas que inclui festivais, apoio à produção e finalização de filmes, coleta, restauração de títulos brasileiros e estrangeiros, cursos, atendimento a pesquisas acadêmicas, exposições documentais, seminários e debates, formação de plateias e desenvolvimento de projetos pedagógicos, além de pré-estreias de filmes, lançamento de livros e exibição de filmes silenciosos acompanhados de música ao vivo e performances interativas.

O acervo possui cerca de 100 mil rolos de filmes, 60 mil títulos em mídias magnéticas e digitais, biblioteca com 10 mil volumes, arquivo documental com 28 mil dossiês de publicidade e imprensa, 250 mil negativos e cópias de fotografias, 22 mil cartazes de filmes e eventos, além de catálogos, filmografias, obras de referência, equipamentos e diversas outros documentos. Com exceção da maior parte dos originais fílmicos, que só podem ser consultados mediante autorização do detentor de direitos, o restante do acervo encontra-se aberto à consulta pública de forma gratuita. Parte do acervo do crítico Alex Viany já se encontra digitalizado e disponível para consulta on-line.

A missão da Cinemateca revela-se de um lado como importante instituição de preservação da memória audiovisual, principalmente das manifestações audiovisuais brasileiras, e de outro como promotora da cultura cinematográfica e das mais diferentes formas de manifestação de imagens em movimento. Como centro de conservação e pesquisa tem atuado na consolidação do setor audiovisual brasileiro e se voltado para o processo de desenvolvimento cultural e social do Brasil.

Após uma grande reformulação em sua linha de atuação, implantou em 2016 um programa de lançamento de obras audiovisuais brasileiras que não encontraram espaço no mercado de salas de exibição tradicional, trazendo ao contato do público do Rio de Janeiro títulos importante como Strovengah, de André Sampaio, Revelando Sebastião Salgado, de Betse de Paula, e o projeto Tela Brilhadora, com filmes de Júlio Bressane, Bruno Safadi, Moa Batsow e Rodrigo Lima, entre outros títulos. Com a série A Linguagem do Cinema, em sua segunda coletânea, a Cinemateca do MAM amplia o alcance do programa e lança o conjunto de episódios em oito cidades brasileiras.


Entrevistados – Linguagem do Cinema – série II:

Cacá Diegues: considerado um dos fundadores do Cinema Novo, ele já publicou sua auto-biografia e lança, provavelmente este ano, o longa de ficção O Grande Circo Místico,  baseado no poema de 47 versos contido no livro A Túnica Inconsútil (1938), de Jorge de Lima. A maioria dos filmes de Diegues foi selecionada por grandes festivais internacionais, como Cannes, Veneza, Berlim, Nova York, e Toronto e exibida comercialmente na Europa, Estados Unidos e América Latina. Seus longas já arremataram diversos prêmios nacionais e internacionais, e em 1981, ele integrou o júri no Festival de Cannes. Um dos destaques da sua obra é a abordagem da questão negra, o que aparece em longas como Ganga Zumba (1964), Quilombo (1984) e Orfeu (1999). O cineasta também se preocupa com as transformações da sociedade brasileira, que ele investiga em filmes como Os Herdeiros (1970), Bye Bye Brasil (1979) e no novo longa O Grande Circo Místico.

Cao Guimarães: cineasta e artista plástico, considerado o multiartista brasileiro mais importante da atualidade, tem obras nos principais museus e instituições de arte do mundo. Seu trabalho é marcado pela interação do audiovisual com os mais variados espaços de apresentação junto ao público para além da sala de cinema tradicional. Investiga em seus longas os limites da condição humana, a paisagem desolada e agreste da contemporaneidade e os vestígios de um tempo passado em um presente cada vez mais esgarçado. Em 1993, recebe o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Fundação Nacional de Arte, para desenvolvimento do ensaio fotográfico Ex-Votos, com Rivane Neuenschwander. Em 1997, participa de curso sobre cinema experimental na The National Film-Makers Cooperation, em Londres. No fim da década de 1990, passa a realizar principalmente documentários experimentais como os premiados Acidente, Andarilho, A alma do osso, Otto e O homem das multidões . 

Edgard Navarro: autor de uma obra radical e incomum, Edgard começou a fazer cinema na década de 1970 desafiando os limites do bom gosto e prolongando as virtudes do chamado cinema marginal com a iconoclastia, pesquisa de linguagem e o compromisso com a invenção artística. Partindo da condição periférica e explorando ícones pop, construiu uma obra singular em que a liberdade do indivíduo se torna seu maior trunfo em meio à mesmice e à banalidade do mundo contemporâneo. Em 1989, dirigiu o média-metragem Superoutro, que levou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Ator no Festival de Gramado de 1989, além de ter sido selecionado para os festivais de HavanaTróiaNova York e Helsinque. Voltou ao cinema em 2005, com o longa Eu me lembro(2005), que ganhou os Candangos de Melhor Filme, Direção, Atriz, Ator coadjuvante, Atriz Coadjuvante e Roteiro.

Eduardo Nunes: formado em cinema pela UFF, desenvolve um estilo marcado por longos planos-seqüências que lhe valeram o prêmio Andrei Tarkovski por Sudoeste (2011), seu primeiro longa. Realizado com uma proporção de imagem extremamente incomum de 3.66:1, o filme explora um universo simbólico de fundo interiorano e imemorial em preto e branco. Foi exibido em mais de 30 países, ganhou diversos prêmios internacionais, incluindo dois FIPRESCI, além de também ter sido distribuído na Europa e EUA, onde estreou com uma exibição no MoMA. Eduardo é herdeiro das tradições do cinema intelectual moderno que tratam, entre outros aspectos, de um tempo idílico e do mundo rural brasileiro.

Erik Rocha: recém-premiado no Festival de Cannes pelo documentário de invenção Cinema Novo (2016), ele estudou na Escola Internacional de Cinema e Televisão, em Cuba, e desenvolveu carreira explorando principalmente o documentário. Fiel aos compromissos políticos e estéticos da geração de seu pai, Glauber Rocha, e ao experimentalismo da obra audiovisual de sua mãe Paula Gaetan, explora com rara sensibilidade temas como a cultura andina em Pachamama (2010), a música de Jards (2012) e a condição contemporânea em Transeunte (2011). Erik também fez referências ao cinema e às raízes familiares em filmes como Rocha que Voa (2002) e no próprio Cinema Novo. É um ativista em defesa da reflexão em torno do cinema e da transformação do pensamento por meio da expressão cinematográfica.

Lúcia Murat: diretora e roteirista com trajetória internacional. Sua carreira é atrelada à questão pessoal e política brasileira, seus filmes são uma espécie de biografia de sua geração com viés de esquerda e tratam, em geral, da questão da superação. Ela preocupa-se com a transformação da América Latina como aparece em Pequeno Exército Louco (1984),filme sobre a guerra civil na Nicarágua e a presença norte-americana no país. Ela também aborda a questão da mulher, toda sua obra é filtrada do ponto de vista feminino e com uma dimensão estritamente pessoal, o que aparece em A Longa Viagem (2011),  filme sobre sua juventude e a de seus dois irmãos na década de 1960. O filme foi o grande vencedor do Festival de Gramado, eleito pelo júri, público e crítica. Seu último longa de ficção, A Memória Que Me Contam (2012), foi eleito pela FIPRESCI como melhor filme do Festival Internacional de Moscou de 2013. Seus filmes já foram exibidos nos principais festivais internacionais e ela já recebeu prêmios no Festival de BrasíliaFestival de Mar Del Plata, entre outros.

Luiz Carlos Barreto: um dos maiores fotojornalistas da imprensa brasileira, destacou-se na área cinematográfica por dois trabalhos de fotografia excepcionais e de grande influência: Vidas Secas (1963) e Terra em Transe(1967). É integrante de uma família envolvida com a criação cinematográfica. Como produtor, esteve à frente de grandes clássicos do cinema como Garrincha, Alegria do Povo (1962), A Hora e a Vez de Augusto Matraga (1965),Dona Flor e seus Dois Maridos (1966), Memórias do Cárcere (1984) e Flores Raras (2013), entre outros. Em sua carreira, destaca-se também a atuação política, a paixão pelo futebol e o engajamento junto à geração do Cinema Novo.

Ricardo Miranda: Montador, roteirista e realizador marcado por uma profunda relação com o cineasta Arthur Omar, de quem montou todos os filmes nos anos 70. Possuía um rigoroso compromisso com o cinema de invenção, apresentado sobretudo em seus dois últimos longas: Djalioh, premiado na Mostra do Filme Livre 2012, e Paixão e Virtude(2014). Foi diretor de propagandas para TV, curtas e inúmeros textos de reflexão sobre o cinema. Foi autor, junto com o antropólogo Carlos Alberto Messeder, do livro Televisão - As imagens e os sons: no ar, o Brasil. Atuou ainda como professor na Escola de Cinema Darcy Ribeiro e foi gerente de interprogramas na TV Brasil. Faleceu em março de 2014, vítima de infarto.

Rosemberg Cariry: cineasta, roteirista, documentarista, produtor, poeta e escritor cearense, nascido na região do Cariri. Começou sua carreira como ‘superoitista’ nos anos 70 e logrou passar na década seguinte à realização profissional, tornando-se o mais importante diretor de cinema do estado e pioneiro da regionalização que se consagraria nos anos 90, com filmes como Caldeirão da Santa Cruz do DesertoA saga do Guerreiro Alumioso e Corisco & Dadá, seu grande sucesso. Dedicou inúmeros estudos, pesquisas, filmes documentários e de ficção ao registro das tradições nordestinas. Desde os anos 1970 teve uma participação de destaque nos movimentos artísticos do Crato, lançando a revista cultural Nação Cariri, publicação em que abordava a cultura regional sob a ótica de uma perspectiva humanista adquirida na formação em Filosofia. Em 1997, exerceu o cargo de secretário de Cultura da cidade do Crato (CE), assumindo em seguida a ABD-CE e a presidência do Congresso Brasileiro de Cinema. Publicou inúmeros livros, com destaque para os quatro volumes de poesia. É o realizador nordestino com a maior  filmografia de longa metragens, onze títulos.

Walter Goulart: decano dos técnicos de som do cinema brasileiro, ele iniciou sua carreira no estúdio de som Rivaton como foley, passando em seguida a dominar as diferentes funções da pós-produção sonora, indo da captação à mixagem. Tornou-se o braço direito de Carlos De La Riva na Tecnisom e posteriormente na Delarte, passando aos sets ao fazer o som direto de O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1968), o que o transformou de imediato no maior nome da função ao longo da história. Foi responsável pelo som de mais de 200 títulos entre curtas e longas, com destaque para títulos como O Anjo Nasceu (1968), Macunaíma (1970), São Bernardo (1971), Guerra Conjugal (1975), Dona Flor e seus Dois Maridos (1976), Cabaré Mineiro (1984), Egungun (1985), Deus é um fogo (1987) e Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais (2007) entre outros. Foi importante ativista sindical e professor de Técnica de Som em inúmeras oficinas e escolas.

Informações Técnicas:

A Linguagem do Cinema - série II

Diretor: Geraldo Sarno
Direção de Fotografia e Câmera: Ángel Díez
Edição e Montagem: Renato Valone
Duração de cada episódio: 50 minutos
Exibição (RJ): Cinemateca do MAM, Estação Botafogo, Cine Jóia e Escola Darcy Ribeiro
Realizadores: Lúcia Murat, Cacá Diegues, Rosemberg Cariry, Edgard Navarro, Eryk Rocha, Ricardo Miranda, Walter Goulart, Cao Guimarães, Eduardo Nunes e Luiz Carlos Barreto
Produção: Saruê Filmes

Museu de Arte Moderna

Lançamento: série Linguagem do Cinema II

Convidado: Erik Rocha (cineasta premiado)
Mediador: Hernani Heffner
Dia: 15 de maio (2ª feira)
Horário: 19h
Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo.

* Evento gratuito aberto ao público.

* os filmes da série ficarão em cartaz na Cinemateca do MAM por duas semanas